Com esse sugestivo nome o casal de escritores Jeanine W. Adami e Saulo Adami publica um livro muito interessante e que bem merece um comentário. “Estrada de Papel” é uma espécie de prestação de contas das longas e incansáveis atividades dos autores na área cultural como escritores e agitadores que movimentaram o meio cultural em nosso Estado, em especial nas regiões de Brusque e Itajaí. É surpreendente a quantidade e a variedade de eventos que promoveram ou dos quais participaram. 4b5y6c
Na primeira parte o volume estampa uma cronologia biobibliográfica, assim denominada pelos autores, contendo minucioso registro de fatos e atividades do casal desde 1964 até 2021, contendo inclusive suas obras e as datas da publicação. Serve como roteiro para quem deseja se localizar no universo da ampla produção dos autores.
“Sou escritor itinerante que percorre diariamente a estrada de papel e tinta” afirma Saulo Adami, como que justificando a irrequieta relação com a escrita e outras artes. É a confirmação da antiga máxima de que escritor já nasce escritor e escreve por incontrolável impulso. O escritor que não escreve, por este ou aquele motivo, morrerá infeliz e não realizado. Segundo ele, sua avó, benzedeira, previu que ele seria escritor tão logo nasceu e fez tal a afirmação à sua mãe. A profecia se realizou. “ei a maior parte da adolescência estudando e escrevendo. Fui um guri normal, pleno de dúvidas, mas ao mesmo tempo certo de que queria ser escritor” – confessa ele. Já estava inoculado do micróbio literário.
E jamais parou, incursionando por quase todos os gêneros. A crônica foi o primeiro gênero experimentado, seguindo-se o conto no qual se iniciou em 1975, inspirando-se em personagens de quadrinhos, filmes e séries de televisão, até adquirir fisionomia própria e criar personagens gerados por fértil imaginação. Ingressou em seguida pelo teatro, escrevendo peças montadas em várias ocasiões. Desde criança sentia atração pela dramaturgia, tanto que, ainda menino, escreveu e apresentou uma peça com colegas de colégio. Palmilhou a seguir pelas trilhas do ensaio, que os antigos denominavam de estudo, gênero exigente em que o autor “expõe ideias, críticas, reflexões éticas e filosóficas sobre determinado tema”. A poesia também mereceu sua dedicação e empenho desde muitos anos e seus primeiros versos retratavam o cotidiano e a natureza quase intocada de Santa Catarina. Novela e romance não escaparam, tendo produzido ambos os gêneros longos, de forma que trabalhou os três principais textos em prosa, incluindo-se o conto.
Com tal bagagem o escritor estaria completo. Mas ninguém o segurou e ingressou pelos diários de viagens, pela história e pela biografia. Não satisfeito, dedicou-se ao cinema escrevendo roteiros e produzindo documentários inovadores apresentados através do rádio.
Em capítulo especial Adami relata seu processo criativo e desvenda os segredos que permitiram tão vultosa produção em tantas frentes.
A relação da imensa obra por ele produzida ocupa nada menos que 55 páginas com todas as indicações necessárias.
Em duas páginas de Breviário, Saulo Adami alinha seus princípios éticos e seu modo de proceder nas mais variadas circunstâncias criadas por uma vida inteira dedicada à interação com o povo através da mídia.
Jeanine Adami, por sua vez, escreve páginas rememorativas do trabalho com o marido, comungando dos seus sonhos e contribuindo para a sua realização.
O livro é muito bem documentado e rico em material iconográfico. O trabalho executado pelo dedicado casal é merecedor de aplausos e agradecimentos pela contribuição à cultura e às letras em especial.
No volume denominado “O Voo da Ema” as atividades do operoso casal se complementam. Nele aparece minuciosa relação da produção literária em Brusque e região desde 1860 até 2021. Trabalho meritório, retirando do ostracismo autores e obras que logo cairiam em total esquecimento. Encontrei inúmeros autores e obras de cuja existência nem sequer suspeitava.